Uma nova droga experimental para perda de peso, chamada elorolintide, mostrou resultados promissores num ensaio clínico de Fase 2, com participantes a conseguirem reduzir entre 9 % e 20 % do seu peso ao longo de 48 semanas. Desenvolvida pela empresa Eli Lilly, esta medicação distingue-se das terapias mais comuns contra a obesidade, pois atua sobre a hormona amilina, em vez das tradicionais que estimulam o receptor GLP-1.
A amilina é uma hormona libertada pelas células do pâncreas durante a digestão e desempenha um papel importante na regulação do apetite, no atraso do esvaziamento gástrico e no metabolismo. O elorolintide é um agonista seletivo do recetor da amilina, o que significa que imita a sua ação no organismo. Essa imitação permite que a medicação atue no cérebro para reduzir a fome, diminua a velocidade com que o estômago se esvazia e promova um consumo energético mais eficiente, contribuindo para a redução de peso.
No estudo de Fase 2 participaram 263 adultos com obesidade ou excesso de peso, todos com pelo menos uma comorbilidade relacionada com a obesidade e sem diabetes tipo 2. Os voluntários foram divididos em diferentes grupos, recebendo doses semanais subcutâneas de elorolintide (variando entre 1 mg, 3 mg, 6 mg e 9 mg) ou uma combinação com escalonamento de dose (6-9 mg e 3-9 mg) ou ainda placebo. Ao fim de 48 semanas, os participantes que usaram a dose mais alta de 9 mg apresentaram uma perda média de peso de cerca de 20 %, enquanto os grupos com escalonamento de dose também registaram reduções entre 16 % e 20 %, em comparação com apenas 0,4 % de perda no grupo de placebo.
Além da perda de peso significativa, o estudo registou melhorias em vários marcadores relacionados com o risco cardiometabólico: a circunferência da cintura reduziu até 17,1 cm, o índice de massa corporal (IMC) diminuiu até 7,8 kg/m², e verificaram-se ganhos na pressão arterial, no controlo da glicose, nos perfis lipídicos e em marcadores inflamatórios. De acordo com os investigadores, essas melhorias sugerem que o elorolintide não tem apenas um efeito direto na perda de peso, mas também promove benefícios que podem reduzir o risco de doenças associadas à obesidade, como hipertensão, dislipidemias, apneia do sono ou osteoartrite.
Relativamente à segurança, os efeitos adversos mais comuns foram náuseas e fadiga, especialmente em doses mais elevadas. As taxas de náusea variaram conforme a dose: nos grupos mais baixos (1 mg) cerca de 11 % relataram náuseas, enquanto nos mais altos (6 mg e 9 mg) esse valor subiu consideravelmente. A fadiga também foi mais frequente em doses elevadas, embora a escalonamento de dose (aumentar gradualmente) tenha mostrado reduzir esses sintomas. Aproximadamente 81 % dos participantes em tratamento relataram algum efeito secundário, comparado com 71 % no grupo placebo. Houve alguns casos de desistência devido a efeitos colaterais, mas não foram reportadas pancreatite, colecistite nem mortes relacionadas com o medicamento durante o estudo.
Os resultados positivos obtidos nesta Fase 2 convenceram a Eli Lilly a lançar já ensaios de Fase 3, com o objetivo de avaliar o elorolintide numa população mais ampla e diversificada, para confirmar a sua eficácia e segurança a longo prazo. Esses estudos serão determinantes para saber se o medicamento poderá vir a ser aprovado por entidades reguladoras e disponibilizado como opção terapêutica para a obesidade.
Especialistas em cirurgia bariátrica e endocrinologia mostraram-se cautelosamente otimistas. Embora considerem os resultados relevantes (quase equivalentes à perda observada em terapias baseadas em GLP-1) destacam a necessidade de analisar dados de segurança a longo prazo e se os ganhos de peso se mantêm ao longo de anos, não apenas meses. Um dos pontos mais valorizados por esses especialistas é precisamente o facto de o elorolintide atuar por um mecanismo diferente, pois isso pode abrir novas possibilidades de tratamento para pessoas que não respondem bem às terapias atuais ou que não toleram os seus efeitos colaterais.
Outra vantagem potencial desta nova abordagem é permitir uma maior personalização dos tratamentos para obesidade. Cada pessoa pode responder de forma diferente a hormonas como o GLP-1 ou a amilina, por isso ter medicamentos com mecanismos distintos pode aumentar a probabilidade de sucesso terapêutico a longo prazo. Para alguns pacientes, o elorolintide pode ser usado sozinho; para outros, poderá vir a ser combinado com agonistas de GLP-1.
Ainda assim, o custo será um fator a considerar, já que os tratamentos para obesidade muitas vezes são caros e nem sempre estão cobertos pelos seguros de saúde. Se o elorolintide vier a ser aprovado, a sua acessibilidade poderá depender da forma como for comercializado e se existir cobertura por parte dos sistemas de saúde ou seguradoras.
Em conclusão, o elorolintide representa uma das apostas mais promissoras no tratamento da obesidade nos últimos anos. Com uma perda de peso média de até 20 % em 48 semanas, associada a melhorias em fatores metabólicos importantes e um perfil de tolerância razoável, este medicamento pode vir a expandir significativamente o leque de opções para o controlo do peso. No entanto, será essencial acompanhar a evolução dos ensaios de Fase 3 para avaliar a sua eficácia a longo prazo, segurança e viabilidade para uso generalizado. Se os resultados se confirmarem, o elorolintide poderá marcar o início de uma nova geração de tratamentos para obesidade, mais eficazes, diversificados e personalizáveis.