A doença de Alzheimer, uma das principais causas de demência em todo o mundo, continua a ser um dos maiores desafios da medicina moderna. Recentemente, o fármaco lecanemab tem emergido como uma promessa no tratamento desta condição, oferecendo esperança a milhões de pacientes e suas famílias. Este artigo explora os avanços, eficácia, segurança e controvérsias associadas a este novo medicamento.
O lecanemab é um anticorpo monoclonal desenvolvido pelas farmacêuticas Eisai e Biogen. A sua principal função é direcionar-se aos protofibrilos de beta-amiloide no cérebro, estruturas associadas à progressão da doença de Alzheimer. Ao ligar-se a estas estruturas, o lecanemab visa reduzir a acumulação de placas amiloides, um dos principais marcadores patológicos da doença.
Num ensaio clínico de fase III, envolvendo 1.795 participantes com Alzheimer em estágio inicial, o lecanemab demonstrou uma redução de 27% no declínio cognitivo ao longo de 18 meses, em comparação com o placebo. Esta diferença foi medida através da escala Clinical Dementia Rating-Sum of Boxes (CDR-SOB), uma ferramenta amplamente utilizada para avaliar a progressão da demência.
Embora os resultados sejam promissores, o lecanemab não está isento de efeitos adversos. Um dos principais riscos associados ao medicamento são as Anomalias de Imagem Relacionadas com Amiloide (ARIA), que incluem inchaço cerebral (ARIA-E) e micro-hemorragias (ARIA-H).
Além disso, dados do sistema de farmacovigilância da FDA indicam que, entre os efeitos adversos mais comuns, estão dores de cabeça, calafrios e fadiga.
O lecanemab recebeu aprovação acelerada da FDA em janeiro de 2023 e aprovação completa em julho do mesmo ano. No entanto, a sua aceitação não foi universal. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) inicialmente rejeitou o pedido de autorização de comercialização devido a preocupações com os efeitos secundários, especialmente as ARIA.
No Reino Unido, embora o medicamento tenha sido aprovado pela agência reguladora, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) decidiu não cobrir o seu custo, considerando que os benefícios não justificam o investimento.
O lecanemab é indicado para pacientes com comprometimento cognitivo leve ou demência ligeira devido à doença de Alzheimer. Antes de iniciar o tratamento, é essencial realizar testes genéticos para identificar a presença do gene APOE e4, uma vez que portadores deste alelo têm maior risco de efeitos adversos graves.
Além disso, pacientes devem ser submetidos a ressonâncias magnéticas cerebrais antes e durante o tratamento para monitorizar possíveis ARIA. A decisão de iniciar o tratamento deve ser tomada em conjunto entre o paciente, a família e a equipa médica, considerando os potenciais benefícios e riscos.
O lecanemab representa um avanço significativo na abordagem terapêutica da doença de Alzheimer, oferecendo uma opção que pode retardar a progressão da doença em estágios iniciais. No entanto, é crucial equilibrar os benefícios com os riscos associados, especialmente em relação aos efeitos adversos. À medida que mais dados do mundo real se tornam disponíveis, espera-se que a compreensão sobre a eficácia e segurança do lecanemab se aprofunde, permitindo decisões mais informadas por parte de pacientes e profissionais de saúde.