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Menopausa pode afetar a memória, humor e raciocínio

Menopausa pode afetar a memória, humor e raciocínio

27 de Outubro de 2025

A menopausa é uma fase inevitável na vida de todas as mulheres e marca o fim do ciclo reprodutivo. No entanto, as suas implicações vão muito além das mudanças hormonais e dos sintomas físicos mais conhecidos. Investigadores têm vindo a descobrir que esta transição também provoca transformações profundas na estrutura e no funcionamento do cérebro, que podem influenciar a memória, o humor e a capacidade de raciocínio. Um estudo recente analisou com detalhe essas alterações, ajudando a compreender como o declínio dos estrogénios afeta o cérebro feminino e como estas mudanças podem estar relacionadas com sintomas cognitivos e emocionais frequentemente relatados durante esta fase.
A investigação observou um grupo de mulheres em diferentes estágios da menopausa, utilizando técnicas avançadas de imagem cerebral para avaliar o volume de várias regiões do cérebro, o fluxo sanguíneo e os níveis de certas substâncias químicas cerebrais. Os resultados mostraram que há mudanças estruturais e funcionais significativas à medida que os níveis hormonais diminuem. Nomeadamente, áreas associadas à memória e à regulação emocional, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, mostraram variações evidentes.
O estudo revelou que durante a transição para a menopausa ocorre uma redução do volume de matéria cinzenta em certas zonas, o que está associado a dificuldades na memória de curto prazo e na capacidade de concentração. Contudo, também foram observados sinais de adaptação, já que o cérebro parece reorganizar-se para compensar a perda hormonal. Essa plasticidade neural pode explicar por que motivo muitas mulheres recuperam parte das suas funções cognitivas após o final da menopausa.
Os investigadores destacaram que as hormonas sexuais, em particular os estrogénios, desempenham um papel essencial na saúde cerebral. Estas hormonas estão envolvidas na comunicação entre neurónios, na proteção contra o stress oxidativo e na regulação de processos inflamatórios. Quando os níveis de estrogénio diminuem, essas funções tornam-se menos eficientes, o que pode deixar o cérebro mais vulnerável a alterações associadas ao envelhecimento e a doenças neurodegenerativas.
Além das mudanças físicas no cérebro, o estudo também relacionou a menopausa com alterações de humor e aumento da ansiedade. Estas variações emocionais podem ter origem nas mesmas alterações hormonais que afetam as regiões cerebrais responsáveis pelo controlo emocional e pela produção de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina. As mulheres que participaram no estudo relataram mais frequentemente sintomas como irritabilidade, tristeza e dificuldade em lidar com o stress, reforçando a ideia de que a menopausa não é apenas uma transição biológica, mas também um desafio psicológico.
A investigação trouxe igualmente dados importantes sobre a circulação cerebral. Verificou-se que o fluxo sanguíneo para certas regiões do cérebro diminui durante esta fase, o que pode afetar a oxigenação e o fornecimento de nutrientes essenciais às células nervosas. Este fenómeno ajuda a explicar porque algumas mulheres sentem lentidão mental ou lapsos de memória. No entanto, em muitas delas, o cérebro mostrou capacidade de ajustar-se a esta nova realidade, o que reforça o conceito de que, embora existam alterações, estas nem sempre resultam em danos permanentes.
Outro ponto de interesse é que nem todas as mulheres são afetadas da mesma maneira. Fatores genéticos, estilo de vida, alimentação, níveis de atividade física e até o histórico de saúde mental influenciam a forma como o cérebro reage à menopausa. Por exemplo, mulheres que mantêm uma dieta equilibrada, fazem exercício regularmente e têm um bom sono parecem lidar melhor com os sintomas cognitivos e emocionais. O exercício físico, em particular, tem sido apontado como um fator protetor, ajudando a preservar a memória e a função cerebral.
Os investigadores defendem que compreender estas alterações é essencial para desenvolver estratégias de prevenção e intervenção mais eficazes. Saber que a menopausa afeta o cérebro de forma tão marcante permite aos profissionais de saúde orientar melhor as mulheres, oferecendo acompanhamento personalizado e, quando necessário, opções terapêuticas adequadas.
Entre essas opções, a terapia hormonal de substituição continua a ser um tema de debate. Embora possa ajudar a aliviar sintomas físicos e cognitivos, é necessário avaliar os riscos e benefícios em cada caso, já que o seu impacto varia conforme o histórico clínico e o perfil hormonal de cada mulher. O estudo não se concentrou especificamente na terapia hormonal, mas os investigadores sugerem que manter um equilíbrio saudável de estrogénios pode proteger certas áreas cerebrais sensíveis à sua ausência.
A menopausa também é um momento em que o risco de doenças cardiovasculares aumenta, e isso tem implicações diretas para a saúde cerebral. Como o sistema circulatório é fundamental para o bom funcionamento do cérebro, alterações hormonais que afetam a elasticidade dos vasos sanguíneos e o metabolismo lipídico podem agravar o risco de declínio cognitivo. Assim, cuidar do coração é também cuidar do cérebro.
Para além dos aspetos médicos, há uma dimensão social e emocional que não deve ser ignorada. Muitas mulheres passam por esta fase sem o devido apoio e informação, interpretando as mudanças cognitivas como sinais de envelhecimento precoce ou perda de capacidade. No entanto, compreender que estas transformações são naturais e temporárias pode reduzir a ansiedade e melhorar o bem-estar psicológico. A educação e o diálogo aberto sobre o impacto da menopausa no cérebro são passos fundamentais para quebrar estigmas e promover uma abordagem mais saudável desta etapa da vida.
Os resultados do estudo reforçam a ideia de que o cérebro feminino é dinâmico e adaptável. Embora a menopausa traga desafios significativos, também demonstra a impressionante capacidade de reorganização do cérebro. Este processo de adaptação pode envolver o fortalecimento de novas ligações neuronais e o uso de diferentes áreas cerebrais para compensar as que perdem volume ou atividade.
Com base nestas conclusões, os cientistas recomendam que as mulheres adotem medidas preventivas para preservar a saúde cerebral durante e após a menopausa. Entre as principais recomendações estão uma alimentação rica em antioxidantes e gorduras saudáveis, prática regular de exercício físico, manutenção de uma vida social ativa e estímulo mental constante através da leitura, jogos de raciocínio ou aprendizagem de novas competências. O sono adequado também é um fator essencial, uma vez que é durante o descanso que o cérebro consolida memórias e repara tecidos.
Em última análise, a menopausa deve ser encarada como uma fase de transição natural e não como uma doença. O cérebro passa por transformações profundas, mas muitas dessas mudanças fazem parte de um processo de reajuste que permite ao organismo adaptar-se à nova realidade hormonal. A investigação científica tem mostrado que é possível viver esta fase de forma equilibrada, com qualidade de vida e com um entendimento mais claro sobre o que está a acontecer no corpo e na mente.
O estudo representa um avanço importante na compreensão da ligação entre o sistema endócrino e o sistema nervoso. Mostra que o cérebro não é um órgão estático, mas um sistema em constante diálogo com o resto do corpo. As hormonas sexuais, para além do seu papel reprodutivo, influenciam diretamente o modo como pensamos, sentimos e reagimos ao mundo. Quando esses níveis mudam, o cérebro responde, ajustando-se através de mecanismos de plasticidade que são, em si mesmos, um testemunho da resiliência humana.
Compreender este processo é crucial para que as mulheres recebam o acompanhamento adequado e possam enfrentar a menopausa com mais confiança e serenidade. A mensagem principal é clara: as alterações cerebrais que ocorrem durante esta fase não são sinónimo de declínio inevitável, mas sim de uma transformação que pode ser gerida e equilibrada. A ciência continua a desvendar os mistérios do cérebro feminino e, com isso, oferece novas perspetivas para que esta etapa da vida seja vivida com plenitude e saúde mental.

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