Prevenção do VIH poderá ser possível com apenas duas injecções por ano

Não houve novas infecções entre as mais de 2.100 mulheres e meninas que receberam lenacapavir duas vezes por ano, relatam pesquisadores da empresa farmacêutica Gilead Sciences em um artigo publicado online em 24 de julho no New England Journal of Medicine.

Foram registradas 16 novas infecções entre as cerca de 1.100 pessoas que tomaram a pílula diária de PrEP, Truvada, a primeira opção de PrEP disponível desde 2012. Os resultados do ensaio também foram apresentados em 24 de julho na Conferência Internacional sobre AIDS de 2024 em Munique.

Jovens mulheres e meninas adolescentes da África Subsaariana estão entre os grupos com alto risco de infecção pelo HIV. Dos 4.000 jovens mulheres e meninas de 15 a 24 anos que se infectaram com HIV globalmente a cada semana em 2023, em média, cerca de 75% eram da África Subsaariana, de acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS.

Estudos mostram que jovens mulheres e adolescentes estão abertas à PrEP, mas existem barreiras para o uso do medicamento preventivo. O estigma associado ao HIV afeta a PrEP. Algumas mulheres temem que, ao tomar os medicamentos, os outros assumam que elas são positivas para o HIV. E a adesão ao regime diário da pílula pode ser difícil.

“O uso da PrEP, especialmente o uso contínuo e consistente, é desafiado pelo estigma relacionado ao HIV por parte de parceiros, colegas e comunidade, pela compreensão ou aceitação limitada do próprio risco e pelo conhecimento e comunicação imperfeitos dos prestadores de serviços”, diz Amrita Rao, epidemiologista da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health que não participou do novo estudo. A injeção duas vezes por ano pode facilitar a manutenção da proteção, ela diz.

Em 2021, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) aprovou uma PrEP injetável a cada dois meses, uma injeção do medicamento antiviral cabotegravir. Mas o custo proibitivo até agora manteve-a fora do alcance de países de baixa e média renda. Este ano, o Plano de Emergência do Presidente dos EUA para Alívio da AIDS forneceu a injeção de cabotegravir para Malawi, Zâmbia e Zimbábue.

A injeção duas vezes por ano pode significar maior adesão e menos visitas ao consultório, diz Rao, mas a compensação pode ser a redução das oportunidades de testes e aconselhamento para os pacientes. “Ter uma escolha adicional e a capacidade de selecionar o método que é melhor para você, no entanto, é um avanço bem-vindo.”

Mas “um tema recorrente na implementação da PrEP tem sido os longos atrasos entre a aprovação do medicamento e a entrega real para aqueles com maior necessidade”, diz Rao. Sem atenção à implementação da injeção duas vezes por ano, “até mesmo essa ferramenta incrivelmente promissora pode não realizar seu pleno benefício.”