Uma investigação recente revela uma correlação significativa entre a forma como dormimos durante o dia e o risco de mortalidade em idade intermédia e avançada. Apesar de uma sesta curta poder trazer benefícios, como aumento de energia e criatividade, o estudo centra-se nos efeitos de pausas mais prolongadas ou irregulares ao longo do dia e no possível impacto na saúde a longo prazo. Esta análise incluiu mais de oitenta e seis mil adultos, com idade média de sessenta e três anos, cujos padrões de sono diurno foram monitorizados durante uma semana através de dispositivos portáteis, sendo seguidos ao longo de até onze anos. Durante esse período, verificou‑se que quem tinha sestas mais longas, irregulares ou realizadas entre as onze da manhã e as três da tarde apresentava um aumento do risco de mortalidade, mesmo após ajustarem fatores como sexo, peso corporal, consumo de álcool, tabagismo e qualidade do sono noturno.
A explicação apontada pelos investigadores é a de que estas sestas problemáticas podem potenciar ou sinalizar alterações fisiológicas e patológicas pré‑existentes. Entre essas alterações estão ritmos circadianos alterados, sono noturno fragmentado, problemas cardiovasculares, metabólicos ou até alterações cognitivas iniciais. Quem fazia longas sestas demonstrava níveis mais elevados de massa corporal, tensão arterial superior, maior circunferência abdominal e prevalência acrescida de síndrome metabólica, indicadores já associados a maior risco de doenças crónicas como diabetes, perturbações cardíacas e acidente vascular cerebral.
Em sentido oposto, as sestas curtas, também chamadas power naps, de até trinta minutos, não revelaram associação com risco aumentado de mortalidade ou complicações metabólicas. Estas pausas breves parecem oferecer os benefícios de uma pausa reparadora, sem interferir nos ritmos de sono ou induzir efeitos prejudiciais como inércia do sono.
Outras análises confirmaram que sestas diurnas mais longas, superiores a sessenta minutos, e irregulares, correlacionam-se com risco elevado de doenças cardiovasculares e mortalidade. Estes dados refletem uma relação em forma de curva-J: há benefício até um certo ponto (20 a 30 minutos) mas quando ultrapassamos esse tempo, o risco sobe de forma acentuada. A combinação de sono noturno demasiado longo ou curto com sestas prolongadas intensifica ainda mais o risco global.
O vínculo com a mortalidade sugere que, mais do que causarem diretamente consequências graves, as sestas prolongadas ou feitas em horários variáveis podem servir de sinais de alerta para condições de saúde já presentes ou processos de envelhecimento disfuncionais. Por isso, os padrões de sono durante o dia emergem como potenciais marcadores precoces de deterioração física ou metabólica.
Especialistas sublinham a importância de olhar para o sono como um ciclo contínuo ao longo de vinte e quatro horas, em que os comportamentos diurnos desempenham papel tão relevante quanto o descanso noturno. Neste sentido, recomenda‑se que, caso se sintam continuamente cansados durante o dia, especialmente se isso se traduz em sestas longas ou desreguladas, seja consultado um médico para avaliação de possíveis condições subjacentes como distúrbios do sono, apneia, hipertensão, diabetes ou distúrbios metabólicos.
Há também evidência de que a prática regular de atividade física pode mitigar ou mesmo anular os efeitos negativos das sestas prolongadas ou do sono noturno insuficiente/excessivo.
Indivíduos que cumprem as recomendações de atividade física moderada a vigorosa parecem ser menos afetados por padrões de sono considerados de risco.
Em resumo, uma sesta curta e feita regularmente pode ser benéfica, mas quando se estende por mais de meia hora ou ocorre em horários variáveis, especialmente entre as onze da manhã e as três da tarde, aumenta o risco. Esses comportamentos devem ser interpretados como possíveis sinais de alerta, não causas diretas de mortalidade, mas indicadores de condições que merecem investigação clínica adequada.
Promover uma abordagem equilibrada ao sono, integrando horários regulares, duração moderada das sestas e manutenção de atividade física, pode servir como estratégia simples e acessível para melhorar a saúde geral. Regular e breve é a medida ideal para respeitar o ciclo natural do corpo e evitar repercussões a nível funcional e metabólico.