Um estudo recente revelou uma associação preocupante entre padrões irregulares de sono e o aumento do risco de desenvolver até 172 doenças distintas ao longo de vários anos de acompanhamento. Este trabalho, conduzido com base nos dados de quase 90 000 adultos, acompanhados durante cerca de sete anos mediante sensores de uso diário, demonstra que não é apenas a quantidade de sono que importa, mas também a consistência dos horários, o ritmo e a fragmentação do sono. Descobriu-se que, em 92 dessas doenças, mais de 20% do risco está relacionado com comportamentos de sono alterados. Algumas das patologias com risco significativamente elevado incluem demência, diabetes tipo 2, Parkinson, insuficiência renal aguda, hipertensão, obesidade, problemas cardiovasculares, incontinência urinária, fragilidade associada à idade, gangrena e cirrose hepática. Nesses casos, o risco chega a duplicar ou mais, especialmente em situações de alterações graves nos padrões de sono.
Entre os doentes com ritmos de sono mais irregulares, o risco de desenvolver algumas destas doenças chega a ser quase três vezes superior. Por exemplo, foi observada uma associação de quase três vezes mais propensão para desenvolver doença de Parkinson, e cerca de uma vez e meia vezes mais risco de diabetes tipo 2, comparando com indivíduos com padrões de sono mais regulares. Adicionalmente, quem ia para a cama após a meia‑noite e meia apresentava um risco mais elevado de doença hepática grave, como a cirrose, comparativamente com quem dorme mais cedo. Estes achados desconstroem a ideia de que basta dormir o número ideal de horas; a regularidade e qualidade do sono surgem como elementos fundamentais na prevenção de diversas doenças.
Ainda que este estudo mostre apenas associações e não possa provar causa e efeito, o seu elevado rigor e a dimensão da amostra conferem-lhe grande robustez. Os dados recolhidos por dispositivos vestíveis permitem uma medição objetiva, evitando as limitações inerentes aos relatos subjetivos do sono. Os investigadores defendem que chegou o momento de expandir a definição do que significa "bom sono", incluindo fatores como a estabilidade do ciclo do sono, o momento em que se adormece e a fragmentação noturna.
As alterações fisiológicas geradas por um sono irregular podem entrar em rota de contacto com processos inflamatórios crónicos, perturbação do ritmo circadiano e stress metabólico, criando um terreno fértil para o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, metabólicas e cardiovasculares. Embora ainda seja necessário investigar as causas diretas destas associações, o padrão emerge com clareza: a qualidade do sono é um comportamento modificável com impacto profundo na saúde a médio e longo prazo.
Este tipo de evidência reforça a urgência de integrar a regularidade do sono nas estratégias de saúde pública e nos cuidados clínicos de rotina. A adopção de rotinas consistentes, respetivos horários de deitar e acordar, e condições propícias ao descanso podem representar verdadeiros escudos contra um conjunto alargado de doenças graves. O sono deixa assim de ser um comportamento isolado para assumir um papel central na prevenção e promoção da saúde global.