A menopausa marca o fim da fertilidade feminina e vem, muitas vezes, acompanhada de sintomas como afrontamentos, suor noturno e dificuldades de concentração e memória. A terapia com hormonas, frequentemente adotada para atenuar estes efeitos, depende sobretudo do estradiol, um tipo de estrogénio. Um estudo recente constatou que esta terapia pode também ter efeitos benéficos na memória, mas que estes variam consoante a forma de administração.
A investigação envolveu mais de sete mil mulheres pós-menopáusicas de uma média de sessenta anos, que tinham sido submetidas a testes de memória e funções executivas. Detectou-se que quem usava estradiol transdérmico, através de adesivos ou géis, teve melhor desempenho na memória episódica, ou seja, na recordação de eventos passados. Já as mulheres que optaram pelo estradiol oral mostraram melhor capacidade de memória prospectiva, ou seja, lembraram-se mais facilmente de ações futuras, como compromissos ou tomar medicação. Nenhuma das formas de administração influenciou significativamente a função executiva, que inclui planeamento e resolução de problemas.
Uma possível explicação para estas diferenças relaciona-se com o modo como o estradiol é metabolizado no organismo. Quando administrado por via oral, a hormona passa pelo fígado, transformando-se em estrona, uma forma menos ativa. Já as aplicações transdérmicas evitam esse percurso, permitindo que o estradiol atue de forma mais direta em partes do cérebro como o hipocampo, essencial para a memória de acontecimentos.
Apesar dos efeitos observados serem modestos, o estudo sugere que escolher entre estradiol oral ou transdérmico pode ter impacto diferente na memória, o que destaca a importância de um acompanhamento individualizado na decisão terapêutica.
Ainda assim, os investigadores sublinham que estes benefícios foram apenas associados à memória e que o desenho do estudo, de natureza transversal, impossibilita estabelecer uma relação de causa e efeito. Além disso, a coorte estudada era predominantemente constituída por mulheres brancas e com maior estatuto socioeconómico, o que limita a generalização dos resultados a outras populações.
A comunidade médica considera que esta abordagem pode abrir caminho a estratégias mais personalizadas no apoio à saúde cerebral feminina na menopausa. No entanto, é necessário aguardar estudos longitudinais que avaliem os efeitos a longo prazo e a influência de fatores como idade de início da terapia, duração e combinação ou não com progestogéneos.
Em suma, o estradiol pode trazer benefícios cognitivos específicos, dependendo da via de administração, mas estes efeitos são discretos e ainda exigem confirmação através de mais investigação.