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Um simples exame ao sangue pode revelar quanto tempo poderá viver

Um simples exame ao sangue pode revelar quanto tempo poderá viver

20 de Junho de 2025

Imaginemos que bastasse uma gota de sangue para descobrir não apenas a nossa idade, mas também o tempo que poderemos viver com saúde. Nos últimos anos, investigadores têm vindo a desenvolver testes inovadores que avaliam o chamado estado funcional interno através de marcadores epigenéticos e proteínas, oferecendo uma estimativa da longevidade e da qualidade de vida futura.

O conceito de capacidade intrínseca diz respeito à soma das nossas capacidades mentais e físicas incluindo mobilidade, cognição, visão, audição e energia vital. Estas capacidades tendem a declinar com a idade e com a presença de doenças crónicas. Contudo, avaliar este declínio de forma precisa, até agora, exigia equipamento sofisticado e testes clínicos demorados. O novo teste epigenético, realizado por uma amostra de sangue ou saliva, permite aferir padrões de metilação no ADN que se correlacionam com a manutenção desta capacidade ao envelhecer.

Os investigadores utilizaram dados de uma coorte com mais de mil pessoas entre os 20 e os 102 anos para construir um relógio epigenético que avalia a capacidade intrínseca em cinco domínios interligados. Os resultados mostraram que pessoas com pontuações elevadas neste relógio epigenético tinham maior capacidade pulmonar, melhor velocidade de marcha, ossos mais densos, e demonstravam sentir-se mais saudáveis em geral. Foi ainda possível determinar que quem apresentava uma pontuação alta viveu em média cinco anos e meio mais do que quem tinha uma pontuação baixa.

Especialistas destacam que o grande avanço deste método é entrar na célula e medir como o corpo está realmente a funcionar em comparação com a idade cronológica. Este teste, num só processamento simples, revela se o nosso organismo está a funcionar de forma mais jovem ou mais envelhecida, permitindo assim intervenções personalizadas. Isto representa uma mudança de paradigma que poderá vir a ser utilizado como ferramenta regular de avaliação de saúde.

Além disso, estudos anteriores indicam que padrões sanguíneos, incluindo proteínas de inflamação, metabolitos, marcadores de função hepática, renal e níveis de glicémia, permitiram distinguir pessoas que viviam até aos cem com outras que faleceram mais cedo. Por exemplo, níveis superiores de glicémia e marcadores inflamatórios relacionam-se com maior risco de mortalidade, enquanto níveis adequados de elementos como a creatinina e o colesterol parecem contribuir para uma vida mais longa.

Outro estudo avaliou 226 metabolitos e isolou 14 biomarcadores que, em conjunto com o sexo da pessoa, permitiram prever mortalidade com uma precisão de cerca de 80 % em idades entre 18 e 109 anos.

Estes 14 biomarcadores envolvem processos ligados ao equilíbrio hídrico, inflamação e metabolismo, demonstrando o poder desta combinação para prever o risco de vida de um indivíduo com fiabilidade superior à dos fatores de risco tradicionais como a pressão arterial ou colesterol .

Mais recentemente, através da proteómica, está a ser possível medir proteínas específicas que refletem a função dos nossos órgãos em tempo real. Estas tecnologias emergentes permitem identificar padrões que indicam envelhecimento acelerado em órgãos como o coração, pulmões, rins e sistema imunológico, e este envelhecimento diferencial tem sido demonstrado prever o risco de várias doenças décadas antes de estas se manifestarem.

Com este tipo de informação é possível construir perfis personalizados que guiam intervenções mais específicas como ajustes na alimentação, suplementos, maior atividade física ou acompanhamento clínico focalizado. No entanto estes testes ainda estão em fase de desenvolvimento e debate ético pois estabelecer a noção de “idade biológica” ou prever em quantos anos alguém irá falecer levanta questões profundas sobre psicologia, seguro de vida e privacidade .

Apesar disso, o potencial destes testes é claro. Identificar pessoas cujo estado funcional é inferior ao esperado pode permitir intervenções precoces que retardem condições relacionadas com o envelhecimento como doenças cardiovasculares, diabetes, demência ou fragilidade física. Sabendo através de um simples exame que o corpo está a funcionar como se tivesse, por exemplo, 70 anos em vez dos 60 cronológicos pode motivar mudanças no estilo de vida e tratamentos individuais .

Em síntese a evolução da tecnologia médica está a permitir transformar a forma como olhamos para o envelhecimento. Em vez de nos focarmos apenas na prevenção de doenças específicas, os testes epigenéticos, metabólicos e proteómicos começam a oferecer uma visão integrada do envelhecimento funcional. Medir a capacidade intrínseca, monitorizar marcadores epigenéticos e analisar proteínas orgânicas abre caminho a intervenções de saúde preventiva verdadeiramente personalizadas.

Este progresso representa uma mudança fundamental na medicina. Já não se trata apenas de reagir quando surgem sintomas, mas de prever e evitar patologias antes mesmo de estas se tornarem clínicas. Embora ainda se encontrem na fase de validação, estes testes contam com crescente apoio científico e podem vir a ser aplicados em futuros planos médicos, principalmente no âmbito da geriatria de precisão e da medicina preventiva, contribuindo para que o envelhecimento seja não apenas mais longo mas também com maior saúde funcional e qualidade de vida.

Seguimos agora para uma nova era em que bastará uma gota de sangue para nos revelar não só quantos anos temos, mas também o potencial que ainda resta para vivermos com autonomia, produtividade, energia e bem-estar.

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